domingo, 14 de abril de 2013


 UM RIO

 

Eu assim, feito um rio. Venho de longe, nem sei bem donde. Quem sabe uma grota funda toda roxos e verdes nalguma vertente de morro, quem sabe um descampado arenoso vestido de sol. Quem sabe?

Venho vindo. Primeiro filete, filhote, nem ribeira nem riacho, sulcando trilhas incertas, quase secando, depois engordando nos brejos, nos vales molhados, nas chuvas pequenas e grandes, no sangue da terra que poreja sempre.

Venho vindo e vou passando. Faço curvas, rodopio, salto por cima de pedras, algumas contorno outras carrego, como carrego plantas e galhos e troncos e peixes e musgos e seiva. Às vezes me deito em remanso sombroso escutando o tititi das folhas conversando com pardais. Fico bem quieta, finjo que estou dormindo. De repente despenco no limo das pedras serenas, invento bolhas crespas multicores, esparramo agulhas cintilantes tal cristais em pedaços.

Venho vindo e vou passando. Mesma lesma pesada e pardacenta, viscosa, cheia de espumas, umas brancas outras não. Um dia deságuo num mar, , qualquer. Que me importa? vim e passei. Não volto.

 

                                                                                   Clair de Mattos
 

 

 

 

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