O ocaso de
Dilma
Fernando Gabeira
Não creio
que o PT esteja querendo dar um golpe com essa história de plebiscito. Na
verdade, não têm condições de dar um golpe nesse momento da história do
Brasil.
O ciclo petista se
encerrou. Hoje, a pesquisa da Data Folha indica uma queda de 27 pontos na
aceitação da presidente Dilma, queda só comparável ao de Fernando Collor, antes
do impeachment.
O PT sonha em passar o
projeto de lista fechada.
Mas nesse momento da
história do Brasil, tentar fazer aprovar um método que afasta o eleitor de seu
candidato e dá à burocracia do partido o direito de escolher quem será eleito,
terá forte oposição no próprio Congresso.
Se me lembro do que
vi, vai haver uma batalha campal para evitar a vitória de lista fechada, na qual
apenas os caciques partidários se beneficiam.
O que dirão os
eleitores quando perceberem que não elegem mais um deputado mas sim uma lista
fechada, produzida nos bastidores dos partidos?
Vamos primeiro deixar
que haja a batalha pelas perguntas no plebiscito. Primeiro, a pergunta sobre a
viabilidade. Depois cuidaremos dessa especificamente, o grande sonho do PT para
eleger apenas os mais bem colocados no partido e forçar os outros à obediência,
para que um dia seu nome possa subir mais na lista
fechada.
Toda o esforço do PT é
para reforçar a hierarquia interna. E isto num momento em que os jovens que
foram as ruas contestam hierarquias fechadas, sentem-se lideres de si
próprios.
O momento é de
ampliação da liberdade e o PT propõe um esquema mais rígido. Eles não só estão
no fim. São incapazes de decifrar o novo momento e tiram do bolso respostas do
passado, que não solucionam as questões do presente.
Não se trata apenas da
corrupção, da picaretagem, da fanfarronice, a própria estrutura mental dos
petistas pertence a outra época. Talvez nesse ponto, exista uma ponta de
sensação: os passos dos dinossauros em tempo de grandes manifestações oriundas
das redes sociais.
Dilma chamou ao
palácio do Planalto todos os movimentos domesticados, alguns recebendo dinheiro
do PT. Queria simular um “reencontro do com o povo”, só que o povo eram
figurantes colhidos entre os comensais do regime.
Lamento que um setor
do movimento gay tenha se prestado a isso. Desde quando começou a receber verbas
oficiais, alguns de seus líderes vestiram sua gravata e se comportam como
sombrios funcionários do governo.
Não deixa de ser
curioso ver o governo encenar com seus figurantes um acordo que não existe entre
ele e os manifestantes reais.
Dilma é dura como esse penteado que inventaram
para ela. É uma espécie de marionete nas mãos dos lideres do PT que vão encenar
ad nauseam seus rituais burocráticos e autoritários.
O povo para eles
sempre foram aqueles movimentos que chamaram ao palácio do Planalto: o “nosso
povo”que abana a cauda sempre que é preciso.
Essa UNE é
simplesmente decrépita. Viveu anos à custa do governo, silenciou sobre todas as
injustiças e agora vem encenar a representatividade de uma revolta que não fez
e, se chamada antecipadamente a participar, diria não.
O governo e seus
apoiadores são muito cínicos, muito deformados pela corrupção generalizada que
estimularam no Brasil.
Podem sobreviver como Maluf sobrevive. Podem ter até
seus eleitores, como Maluf os têm.
Dificilmente serão
donos do país, como têm sido até hoje. Que outro governo poderia ter a audácia
de realizar uma política externa partidária, em detrimento dos interesses
nacionais?
Que outro governo
faria uma Copa do Mundo plantando elefantes brancos, estádios que depois dos
jogos cairão na inutilidade?
Que outro governo sairia montando embaixada por
dezenas de países minúculos, alguns sem nenhum retorno no
horizonte?
Lembro-me da discussão
da compra do avião para Lula. Os defensores da ideia diziam: é para projetar
nosso poder no exterior.
Eles não imaginariam a crise de 2008 que trazia todo
o planeta de novo para a realidade. A projeção de poder não é mais material, a
ostentação inútil é apenas o reflexo de um complexo de inferioridade que existe
no país e sobretudo do profundo complexo de inferioridade do próprio
Lula.
O nunca antes neste
país era apenas o sempre de antes nesse país, era apenas o sempre de antes na
curso da humanidade: um conto de fanfarras e bandeirolas, significando
nada.
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