MOÇA DESCENDO O
MORRO
Ela vai descendo
Madrugada de névoas translúcidas
Lilases e púrpuras atrás de nuvens parcas
Amarelos embaixo , junto ao pé do morro
Todas as árvores já tão lá longe
Hibiscos guardando cores na espera do amanhecer
A moça muito quieta
Vestido leve ondulando na brisa
Olhos molhados de medo e de espanto
Espiando ainda , pela derradeira
vez
Os ramos tristes da capoerava
Enroscando moles nos moirões da cerca
A moça morena desce o morro
Folhas frescas bailarinas
Dançam no passo da brisa
Fremidas de vento e orvalho
Morrendo esmagadas sob seus pés
Ela desce devagar
Vento sibilando arisco
Alvoroçando cabelos
Arrepiando pêlos
Rodopiando poeira nas sandálias
E no que moça vem descendo
Sobe o pequeno cortejo do menino
O menino que a tosse levou morto
Coisa pouca de carnes e de vida
Querência da mãe pobre que só chora
A moça prossegue a descida
Vermelho crescendo no rosto
Aperto no peito impotente
Amargoso na boca fria e seca
Pranto engolido no olhar opaco
Peso na alma dividida
A moça descendo
O grupo subindo
Cruzar de destinos
Viver e morrer
Face a face
Por um momento
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