quinta-feira, 14 de novembro de 2013

TRIBUNA LIVRE


MOÇA   DESCENDO  O  MORRO

 

Ela vai descendo

Madrugada de névoas translúcidas

Lilases e púrpuras atrás de nuvens parcas

Amarelos embaixo , junto ao pé do morro

Todas as árvores já  tão  lá longe

Hibiscos guardando cores na espera do amanhecer

A moça muito quieta

Vestido leve ondulando na brisa

Olhos molhados de medo e de espanto

Espiando ainda , pela  derradeira vez

Os ramos tristes da capoerava

Enroscando moles nos moirões da cerca

A moça morena desce o morro

Folhas frescas bailarinas

Dançam  no passo da brisa

Fremidas de vento e orvalho

Morrendo esmagadas sob seus pés

Ela desce devagar

Vento sibilando arisco

Alvoroçando cabelos

Arrepiando pêlos

Rodopiando  poeira nas sandálias

E no que moça vem descendo

Sobe o pequeno cortejo do menino

O menino que a tosse levou morto

Coisa pouca de carnes e de vida

Querência da mãe pobre que só chora

A moça  prossegue a descida

Vermelho crescendo no rosto

Aperto no peito  impotente

Amargoso  na boca  fria e seca

Pranto engolido no olhar opaco

Peso na alma  dividida

A moça descendo

O grupo subindo

Cruzar de destinos

Viver e morrer

Face a face

Por  um momento                                                                            

 
                                      Clair de Mattos
 

 

 

 

 

 

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