segunda-feira, 21 de abril de 2014

TRIBUNA LIVRE

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                                  AS  ANTIGAS FAZENDAS DA PROVÍNCIA FLUMINENSE

 

 

Muitas estão de pé, ainda hoje. Velhos casarões senhoriais trazendo à memória um passado faustoso, quando por força e labuta da escravaria submissa, os grãos do café se transformavam em fonte de riqueza nacional, orgulho dos Barões da província.Começaram a surgir em finais do século XVII, a partir da abertura do Caminho Novo rumo à região serrana, e o plantio do “ouro negro” se estendeu ao longo das sesmarias concedidas pela Coroa. Por volta de 1820, com a abertura da estrada do Comércio, no Caminho Novo, muitas mudas foram trazidas, alastrando-se  a semeadura avançou pelas cercanias do Rio Paraíba, já então sob forma de cultura extensiva, altamente rentável. O Governo Imperial prestigiava o recente ciclo econômico a se avizinhar, concedendo títulos nobiliárquicos aos novos empreendedores, acolhendo-os no hermético círculo da Corte. Assim o café transfigurou-se em alicerce básico da economia Imperial. Com a demanda de mão de obra, exacerbou-se o tráfico de escravos, e, da distante África, levas imensas de negras mãos aportaram no Valongo. Criou-se então uma aristocracia rural, e seus integrantes adquiriram importância nas atividades do Império. Consolidou-se assim a supremacia da Província do Rio de Janeiro, cuja safra cafeeira correspondia a aproximadamente 80% de toda cafeicultura nacional.

A Província opulenta e requintada finalmente equipara-se à Capital. Solares imponentes são erigidos, acumulam-se fortunas sólidas e os ventos europeus ampliam  universos intelectuais, refinando modos e modismos. Cultuam-se; o teatro, a literatura e a música erudita. Surgem ateliês de modelistas européias, joalharias refinadas e fundam-se colégios de excelente categoria. Senhores de terras alimentam o esplendor de festas grandiosas, onde o requinte, a fidalguia e a hospitalidade fazem presença constante.

 São freqüentes, as visitas do Imperador e sua Corte. Por conta disso, escravos são adestrados a fazerem boa figura, executando peças clássicas e aristocráticas. Algumas fazendas chegam a possuir seu particular elenco de atores cantores e músicos. Negros. Escravos.

A partir de 1870, inicia-se o declínio da terra fluminense. O inexorável anseio abolicionista e o solo exaurido, erodido, flagelado por anos de devastação e mau trato agravam a situação. O café já não floresce como antes. Após a Lei Áurea, lavouras são abandonadas, e os grãos apodrecem sem colheita.

No entanto, algumas sedes resistem ao tempo e à história. Lá estão ainda, inteiras, guardando ecos dos anos antigos, lembrando que a terra é mãe generosa e acolhe bem todos seus filhos. Que a ela venham novos filhos, e mais uma vez floresçam grãos heróicos a mitigarem a fome do povo. Que o Brasil de hoje redescubra a roça, a mata, a flor, a semente.

E se humanize com a natureza.

 
                                                                                 Clair de Mattos
 
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