AS ANTIGAS FAZENDAS DA PROVÍNCIA FLUMINENSE
Muitas
estão de pé, ainda hoje. Velhos casarões senhoriais trazendo à memória um
passado faustoso, quando por força e labuta da escravaria submissa, os grãos do
café se transformavam em fonte de riqueza nacional, orgulho dos Barões da
província.Começaram a surgir em finais do século XVII, a partir da abertura do
Caminho Novo rumo à região serrana, e o plantio do “ouro negro” se estendeu ao
longo das sesmarias concedidas pela Coroa. Por volta de 1820, com a abertura da
estrada do Comércio, no Caminho Novo, muitas mudas foram trazidas,
alastrando-se a semeadura avançou pelas
cercanias do Rio Paraíba, já então sob forma de cultura extensiva, altamente
rentável. O Governo Imperial prestigiava o recente ciclo econômico a se
avizinhar, concedendo títulos nobiliárquicos aos novos empreendedores,
acolhendo-os no hermético círculo da Corte. Assim o café transfigurou-se em
alicerce básico da economia Imperial. Com a demanda de mão de obra, exacerbou-se
o tráfico de escravos, e, da distante África, levas imensas de negras mãos
aportaram no Valongo. Criou-se então uma aristocracia rural, e seus integrantes
adquiriram importância nas atividades do Império. Consolidou-se assim a
supremacia da Província do Rio de Janeiro, cuja safra cafeeira correspondia a
aproximadamente 80% de toda cafeicultura nacional.
A Província opulenta e requintada
finalmente equipara-se à Capital. Solares imponentes são erigidos, acumulam-se
fortunas sólidas e os ventos europeus ampliam universos intelectuais, refinando modos e
modismos. Cultuam-se; o teatro, a literatura e a música erudita. Surgem ateliês
de modelistas européias, joalharias refinadas e fundam-se colégios de excelente
categoria. Senhores de terras alimentam o esplendor de festas grandiosas, onde
o requinte, a fidalguia e a hospitalidade fazem presença constante.
São freqüentes, as visitas do Imperador e sua
Corte. Por conta disso, escravos são adestrados a fazerem boa figura,
executando peças clássicas e aristocráticas. Algumas fazendas chegam a possuir
seu particular elenco de atores cantores e músicos. Negros. Escravos.
A partir de
1870, inicia-se o declínio da terra fluminense. O inexorável anseio
abolicionista e o solo exaurido, erodido, flagelado por anos de devastação e mau
trato agravam a situação. O café já não floresce como antes. Após a Lei Áurea,
lavouras são abandonadas, e os grãos apodrecem sem colheita.
No entanto,
algumas sedes resistem ao tempo e à história. Lá estão ainda, inteiras,
guardando ecos dos anos antigos, lembrando que a terra é mãe generosa e acolhe
bem todos seus filhos. Que a ela venham novos filhos, e mais uma vez floresçam
grãos heróicos a mitigarem a fome do povo. Que o Brasil de hoje redescubra a
roça, a mata, a flor, a semente.
E se
humanize com a natureza.
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