quarta-feira, 23 de abril de 2014
Tribuna Livre
O ESCRITOR BRASILEIRO
E´ duro, o caminho das letras no Brasil. Inexiste qualquer órgão ou veículo de proteção e amparo àqueles que se dedicam às letras brasileiras por amor e vocação. Claro que muitos atuam em jornais e revistas, o que lhes garante alguma segurança quanto ao futuro, mas, e os demais?
O que dizer dos outros? Aqueles que para viver precisam acomodar-se a empregos burocráticos que lhes garantam a sobrevivência e velhice, quando as mãos já tremem e as ideias escapam imprecisas na mente exausta. Existe um Sindicato. Claro. Sempre existe uma sinecura que acolha os mais espertos. Porém, o que faz, "O Sindicato?" Não oferece suporte algum, visto que guarda-se secreto, beneficiando apenas seus dirigentes, esquecendo de reivindicar o direito a uma aposentadoria digna, nos moldes das leis que regem o trabalho, e demais benesses que outros sindicatos oferecem a seus membros.
Quando lancei meu primeiro livro, nos idos de 1970, fui à sede, na Tijuca, e cuidei de fazer minha inscrição como escritora. Durante algum tempo, frequentei o espaço, assistindo palestras e eventos, porém, jamais recebi sequer um comunicado informativo. Precisava, eu mesma, obter as indicações a respeito do que ocorria naquele espaço, visto que da entidade não recebia informação alguma. Tal estado de coisa durou alguns anos, porém ,carnê para contribuição não recebi nunca. Resolvi, eu mesma ir até lá e me informar. Decepção. Na sala dos dirigentes havia uma enorme foto do Che Guevara. Perguntei: E Machado ? A recepcionista respondeu singela: Machado? Que Machado? Além de tal disparidade, a pobre moça me informou que a esposa de um dos diretores estava inaugurando na sede, um curso de corte e costura, e, inocentemente me perguntou se gostaria de me inscrever.
Desencantei. Entendi que ali não havia espaço para mim. Anos passaram, governos sucederam governos, e ninguém, ninguém, nenhum de seus presidentes ou diretores tratou de pensar na profissão literária como um bem comum, um legado, um trabalho digno de respeito, um ofício custoso e mal remunerado.
O Brasil não costuma valorizar seus criadores, nem prestigiar aqueles que lançam sementes do pensar coletivo. Nenhum órgão público destina-se a garantir que os livros expostos no mercado sejam numerados, de modo a que o autor possa controlar e receber a quantia exata de suas vendas, segredo guardado a sete chaves por algumas editoras inescrupulosas.
E mais, se o autor não paga (alto) para ter sua obra exposta na mídia, as edições, mesmo que se esgotem em tiragens superiores ao contratado, não caberá ao criador direito a um centavo além do contratado inicialmente. Pergunto: É justo?
Além disso, uma vez o livro terminado, compete ao próprio e desamparado autor correr em busca de quem o publique, sendo que, não são poucos os que ainda precisam arcar com os custos de produção e lucro das empresas que os distribuíram para efeito de venda.
Penso que o assunto deve ser urgentemente ventilado e discutido pelas autoridades competentes, visto que um país sem livros, é um país sem alma.
Clair de Mattos.
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