segunda-feira, 6 de maio de 2013


A LOBA- LOUCA

 
                                                      Quantas vezes a vi,Loba-Louca

Ladina,estranha,complexa.Mulher fera,fala rouca.

Riso escapado no franzir da boca, matreira, sonsa, feiticeira.

Olhar de pupila oca, malícia reflexa.Passava por mim quebrando ancas

Cantava sozinha meio ao  revés. Loba—Louca das noites vadias.

Xingando e rolando nos cabarés, pestanas cobrindo órbitas vazias.

Loba-Louca escondendo mistérios na pele murcha rachada de estrias,

cabelos  pardos,  revoltados. Loba-Louca que um dia foi nova

Um dia foi fresca, um dia foi bela,vestiu  sua casa com prendas.

Cobriu seu amado de rendas, deu-lhe filhos, dois,

rostinhos cor de melaço,à roda dela ou presos no abraço.

Certa noite no verão,veio vento, veio chuva.

Céu desabou na terra quente,água inundou todo o chão,

lama vazou nas ribeiras,morro desceu atroado.

Mundo acabou num estrondo.Foi-se tudo num repente

Perdeu a moça seu homem, perdeu a mãe seus meninos.

Perdeu teto e abrigo, perdeu tudo. Mais que tudo,  se perdeu

Perdeu-se a moça de si,depois, largou-se em abandono.

Despossuida, solta, desprovida.Virou outra.Virou tonta.

Virou louca.Fez-se Loba

 
 
                                                                        CLAIR DE MATTOS
 

 

 

 

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